
Vivemos tempos estranhos no Sporting Clube de Portugal. Nunca como agora existiram opiniões tão diametralmente opostas em relação à equipa técnica como nos dias que correm, e as minhas memórias lúcidas já percorrem 25 de história.
É indiscutível que nos últimos 25 anos houve treinadores que não tiveram tempo para explanar as suas qualidades em Alvalade, e o maior dos exemplos terá sido mesmo Sir Bobby Robson (o exercício vale o que vale, pois o treinador poderia nunca ter conseguido qualquer título, mas como os conseguiu num rival, fica sempre aquele travo amargo…).
Muitos dos treinadores do Sporting pós-‘Big’ Malcom Alisson tiveram pouco tempo, na maioria dos casos pouca matéria-prima (aqui excluo definitivamente Carlos Queiroz) e quase sempre 2 adversários de peso nas competições nacionais. O surgimento nacional do FCPorto como o clube com óbvio domínio, e a manutenção do Benfica como clube de topo.
Há 15 anos surgiu do outro lado da 2ª circular Artur Jorge, que acabaria por conseguir coisas bonitas – colocou o clube encarnado na mediocridade banal, e abriu caminho aos piores 10 anos do (ainda) clube mais titulado do país. Sem precedentes, nos últimos 15 anos o Benfica conseguiu menos títulos que o Sporting, e tantos como o Boavista. Sintomático.
Embora o Porto dominasse a seu bel-prazer o panorama nacional, foi perante a mediocridade alheia que o Sporting ressurgiu. Com os tão badalados 2ºs lugares a equipa voltou à Champions League (à altura ainda recente competição…) e muitas vezes foi o principal adversário do Porto.
A 14 de Maio de 2000, o Sporting conseguiu mesmo quebrar o longo jejum que se arrastava desde 82, com um plantel simples, retocado cirurgicamente no natal, e com um 11 de garra, e um GR que impunha respeito a tudo e a todos. O penta azul, e Jardel apenas adornaram ainda mais o significado do título.
Pouco depois o Sporting ‘perdeu’ a cabeça e reforçou-se (arrisco a dizê-lo) da forma mais agressiva de que tenho memória (mesmo sem o mediatismo das ‘unhas’ de JGonçalves) e trouxe para as suas fileiras nomes consagrados como João Pinto, Dimas, Rui Bento, Sá Pinto e Paulo Bento. Seria o início do rumo a um título em que pela 1ª vez em muitos anos o Sporting jogava bom futebol, possuía os melhores jogadores e era o ataque mais produtivo. O slogan ‘Só eu sei porque não fico em casa’ encaixava na perfeição.
O efeito Jardel, e a incapacidade posterior deitaram por terra uma assinalável recuperação no clube, que neste trajecto foi pioneira nas SAD’s, nas Academias e nos novos estádios. O topo foi indiscutivelmente atingido em 2002, e daí para cá, tudo vem piorando.
Nos dias de hoje quase pode dividir-se entre os que apoiam cegamente Paulo Bento, e os que o consideram como parte óbvia e mais visível do problema.
Desde o início da época que temos vindo a assistir a um descair da balança contra o actual treinador, muito por culpa das exibições e resultados, mas na realidade, o projecto Sporting parece só fazer sentido com Paulo Bento.
Ainda hoje li, e fiquei boquiaberto, um artigo de opinião em que o treinador do Sporting era considerado como a melhor opção para o perfil de treinador do Sporting – segundo o próprio, o Sporting precisa de um treinador que seja barato (!?!), que não reclame das não-contratações, e que aceite trabalhar com as mesmas caras a cada ano que passa. (É fácil concluir que o jornalista não é adepto do nosso clube!)
Ao contrário de muitos, sou sensível à situação financeira em que o clube se encontra. Compreendo que não se contratem grandes estrelas. Percebo até que no final da temporada o Sporting possa não vencer a SuperLiga, ou até não conseguir repetir o 2º lugar da última época.
Como muitos sou incapaz de me contentar com um futebol moribundo, um constante enxovalhar da qualidade do nosso plantel, um discurso de coitadinho perante tudo e todos, e um sacudir de responsabilidades, de ponta a ponta, por parte de todos os protagonistas, do treinador aos jogadores, de dirigentes ao próprio Presidente.
Depois da arma de arremesso ‘Orçamento’, e muito por culpa do Sporting de Braga, o discurso transformou-se num ‘Deixem trabalhar a equipa técnica e dêem tempo ao tempo!’. Mas em tempo algum PB foi impedido de trabalhar em paz? Houve na história recente do clube algum treinador tão bajulado? Houve algum treinador com o poder que PB tem actualmente no clube?
Mais do que deixar trabalhar, ou dar tempo ao tempo, aquilo que estão a pedir aos sportinguistas é que estejam em silêncio, que não critiquem o que quer que seja, mas que continuem a fazer-se sócios, a pagar cotas, a comprar gameboxes (se possível também para as modalidades…) e a ir ao estádio. Se puderem, tragam todos um amigo, e que este traga a família. E que comprem a cada jogo uma nova camisola, um avental, um relógio e um peluche. Se puderem, peçam um autógrafo ao Treinador, para dar moral, e tirem uma foto com o Miguel, para ele se sentir acarinhado.
4 anos depois, com o futebol a perder qualidade a cada jogo que passa, teimam em querer fazer-nos acreditar que uma das faces do problema não é o treinador. E que não é o director do futebol. E que não é o de marketing, tão pouco o responsável de imprensa, ou alguém com qualquer responsabilidade no clube.
Os problemas do Sporting são vários, segundo consta. É a relva, ou falta dela, o orçamento (que no caso do Braga inexplicavelmente não se põe), os adeptos que assobiam (imerecidamente!) o Ângulo, os árbitros que não nos assinalam vários penalties por jogo, o Vítor Pereira que nem parece do Sporting, um sócio com responsabilidades que teve mau perder e entregou o cartão de sócio, uma ou outra face da oposição que teima em desestabilizar, e principalmente o Izmailov, que não recupera de forma a aumentar as soluções do treinador.
Para agravar, os outros clubes desta vez não são todos suficientemente maus para disfarçarem a nossa mediocridade, e há, imagine-se o abuso, clubes em Portugal com fracos jogadores, pouco dinheiro e treinadores banais, a praticarem bom futebol.
Por sorte Paulo Bento resiste e continua a fazer-nos o favor de continuar a treinar o clube. Por sorte, Miguel Veloso voltou a gostar de jogar pelo Sporting. Por sorte, Pedro Barbosa está disponível para continuar o bom trabalho.
Por sorte JEB continua a preferir o Sporting ao Santander, e embora não seja fácil, todos os dias acorda com vontade de continuar a ser Presidente.
Pena que um dia a sorte muda.
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